TRABALHO OU BRINCADEIRA?
As vezes os pais de crianças com autismo são criticados pela intensidade da rotina proporcionada ao filho(a). Para algumas pessoas pode parecer que a criança não tem "tempo livre". Entretanto, quem tem uma criança com autismo sabe que muitas vezes a palavra brincar significa trabalhar, bem como a palavra trabalhar significa brincar. E isto se justifica pelas dificuldades que crianças com alguma desordem neurológica apresentam nas habilidades de linguagem expressiva e receptiva, no planejamento motor e no processamento sensorial. Estas dificuldades impactam a habilidade destas crianças em iniciarem e engajarem-se em brincadeiras livres, uma vez que elas não aprendem com a mesma facilidade das crianças neurotípicas, ou seja, pela simples observação dos outros- o que é outro elemento chave do brincar.
Por outro lado, quando estas crianças têm a oportunidade de serem ensinadas(trabalho!) com formas efetivas de engajarem-se com brinquedos e pessoas, elas expandem suas habilidades sensório-motoras, sociais e de linguagem. E o mais importante, elas se divertem!! Para que isso ocorra, precisamos assumir uma conexão com a criança que não seja simplesmente orientada pelas respostas que a criança nos dá durante o brincar. As crianças com autismo podem não nos dar o retorno (feedback) de uma brincadeira da mesma forma que uma criança com desenvolvimento típico, e corremos o risco de fazer uma leitura equivocada desta experiência, e que nos leve a diminuir a intensidade ou a quantidade de estímulo (input). Se a criança não nos olha, não sorri, ou parece reagir de um jeito negativo ou amedrontado à determinada experiência é natural que tenhamos uma resposta de recuar, ou até desistir. Com o intuito de protegê-las ou não sobrecarregá-las, acabamos de fato limitando suas oportunidades de aprenderem como conectarem-se. Sendo assim, não podemos julgar seu nível de interesse estritamente pelas respostas dadas pela criança, pois desta forma somos inclinados a dar menos estímulos, e estas crianças precisam de mais, não de menos. E isto torna particularmente difícil separar o que é trabalho e o que é brincadeira. Permitir que um filho(a) passe horas em frente a TV não é bom para nenhuma criança, porém para uma criança com autismo isto pode ser determinante no seu prognóstico. E a verdade é que não basta a genuína disponibilidade para brincar de "qualquer coisa"...é preciso "trabalho" para compreender sua forma de processar as informações, suas preferências, seus medos, além de uma dose grande de tempo, amor e paciência na construção deste poderoso "brincar".
Fonte: Facebook Autismo e Possibilidades
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário. Ficarei muito feliz.