terça-feira, 16 de julho de 2013

O desafio da educação para autistas


O desafio da educação para autistas

Por Laís Muniz - lais.muniz@folhadirigida.com.br
Crédito: Zenite Machado
Rosani da Costa e Augusto Espindola, junto com o filho Felipe: tentativa de colocar a criança em uma escola recular não foi bem sucedida


















Ao observar de maneira superficial o comportamento de uma pessoa autista, costuma-se chegar à seguinte conclusão: portadores do distúrbio criam um mundo paralelo, onde vivem e interagem com elementos que só eles conhecem. A ideia nasce da relação erroneamente estabelecida entre aparência e realidade. É importante entender que o autismo, ou espectro autista, afeta as capacidades de comunicação e socialização do indivíduo, o que provoca mudanças nas suas reações a estímulos do meio externo. Isso não significa, porém, que ele esteja imune a estes estímulos.

No meio científico, a hipótese mais aceita pelos especialistas é a de que o transtorno se desenvolve no sistema neurológico, comprometendo-o quimicamente. Entre os principais sintomas, estão dificuldades na fala, falta de fixação do olhar, repetição de movimentos e desvios de natureza motora. As características se manifestam em escalas diversas de acordo com cada caso e podem aparecer ou não nos primeiros anos de vida. Quando se trata de autismo, em geral, não é possível fazer generalizações.

A singularidade se estende ao processo de aprendizagem do estudante. Rosa Maria Prista, fundadora do Centro de Estudos da Criança (CEC), afirma que “as crianças autistas, assim como todos nós, têm a tendência natural de evoluir, mas precisam receber os estímulos adequados”.

A psicóloga e educadora frisa a importância do acompanhamento especializado desde os primeiros sinais do distúrbio, que prefere chamar de “estado de ser”. A Escola de Autistas, parte do CEC, conta com profissionais que trabalham as habilidades de seus alunos, na medida em que eles apresentam avanços.
Integração com outros alunos feita aos poucos

Como a principal dificuldade dos autistas aparece no momento da interação, as crianças costumam passar por um período inicial de terapia, em que são estimuladas noções de limitação de espaço. Para isso, são utilizadas técnicas de exploração do ambiente em que se dão os encontros, manuseio de objetos e exercícios musicais. Quando o autista aprende a se relacionar bem dentro desse esquema, o passo seguinte é promover a sua integração ao grupo.

A partir daí, percorre-se um caminho duplo: as atividades coletivas buscam desenvolver tanto a inteligência psicológica como também a acadêmica. Os métodos utilizados para o estímulo à aprendizagem se diferenciam do padrão em diversos aspectos, a começar pelo tamanho das turmas. “Aqui, os grupos são formados por quatro crianças. Cada uma tem um casal de tutores, que criam o referencial das figuras feminina e masculina, nem sempre presentes em suas casas”, explica Rosa. Segundo ela, uma estrutura externa bem construída é fundamental para a percepção do autista acerca de sua própria individualidade.

Nesse sentido, surge a seguinte dúvida: as escolas tradicionais estão preparadas para receber alunos autistas? Márcia Righetti é diretora da Aldeia Montessori, cujo método de ensino baseia-se no exercício da livre escolha e no respeito ao ritmo de cada criança. Para ela, parece uma tarefa difícil, em escolas com turmas regulares, atender com o devido cuidado pedagógico um aluno que tenha autismo. “Em uma escola em que todos fazem a mesma coisa ao mesmo tempo, o professor precisaria ser excepcional para dar a atenção necessária a essas crianças”.
Trabalho com profissionais especializados ajuda no progresso

Assim como Rosa, a diretora acredita ainda que o apoio de profissionais capacitados é um fator determinante na trajetória acadêmica dos pequenos. Esta qualificação dos professores envolvidos pode, nesse caso, facilitar o processo do estudante.

Aldeia Montessori é uma escola não especializada, que recebe portadores e não portadores de deficiências ou distúrbios. A diretora conta como foram as experiências com autistas. “Em geral, eles desenvolveram melhor capacidade de uso do controle inibitório, o que favorece a interação com o grupo; e apresentaram maior aceitação das regras sociais, graças à construção de rotinas que permitem ao aluno se inserir no contexto escolar. É um trabalho sistemático, de alguns anos, que traz resultados”, destaca Márcia Righetti.
Ela aponta ainda a importância da interação com outras crianças, e conta que muitos pais sentem certa resistência em relação a isso. Neste momento, vale lembrar que uma inclusão responsável permite que laços de afeto se formem, o que torna a convivência positiva para todos os envolvidos. “Ter um padrão de comportamento social para espelhar-se faz a diferença para a criança com necessidades educacionais especiais”, completa. As diferenças fazem, mais do que nunca, um papel de complementação na formação tanto social como acadêmica do indivíduo.
Participação da família faz a diferença
O autismo vem se tornando um pouco mais conhecido dos brasileiros com a personagem Linda, vivida por Bruna Linzmeyer, na novela Amor à Vida, da TV Globo. A atriz vive uma adolescentes autista que, por um lado, sofre com o preconceito da irmã Leila (Fernanda Machado) mas, por outro lado, recebe todo o apoio e compreensão da mãe Neide (Sandra Coverloni).

O caso da novela mostra o quanto a atuação da família é fundamental para o processo de desenvolvimento e de aprendizagem da criança autista, desde o momento em que a presença do distúrbio é identificada. Muitos pais ainda hesitam na hora de procurar instituições especializadas. Foi o caso de Rosani da Costa e Augusto Espínola que chegaram a matricular o filho em uma escola regular, mas à qual o aluno não conseguiu adaptar-se.

“No início, tentamos colocá-lo na escola pública, mas não deu certo. Ele estava na primeira série e ainda não conseguia sentar na cadeira. Além disso, precisávamos segurar a porta da sala para que ele não fugisse, então percebi que aquele não era o caminho”, conta a mãe de Felipe, de 10 anos. Hoje, depois de quatro anos na Escola de Autistas, ele adora andar e já começou a comer sozinho, o que se mostrava um desafio.

A principal dificuldade encontrada é, justamente, a relação de dependência que costuma se estabelecer entre pais e filhos. Na intenção de sempre ajudar as crianças, os responsáveis, muitas vezes, exageram e acabam por limitar as possibilidades de autodesenvolvimento de um autista.

“A tendência natural dos pais é a de fazer a vontade dos filhos. Isso não pode acontecer. Se a criança tiver sempre tudo na mão, não tomará a iniciativa de fazer algo sozinha. Esta é uma das coisas que tento mostrar aqui”, explicou Alessandra Fabre, psiconutricista do CEC que atua na Escola de Pais, uma extensão da Escola de Autistas. “Precisamos entender a vontade deles, mas não podemos nunca servir de instrumento. O não-exercício agrava o autismo”, completa Rosa Prista.

Da parceria entre escola e família, nasce um relacionamento pautado na confiança e no apoio mútuo. O comportamento dos alunos é sempre assunto nas reuniões. “Uma vez, o Jonas me contou sobre as atividades do dia, ainda que de maneira um pouco desconectada. Quando cheguei aqui, conversamos e percebi que as coisas tinham realmente acontecido. Ter esse retorno é muito importante e nos deixa mais próximos dos nossos filhos”, contou Luciane Bomfim. E quando o que é aprendido na escola ganha continuidade dentro de casa, o desenvolvimento da criança ocorre mais rápido e, principalmente, de maneira saudável.


Um comentário:

  1. Olá Nilva. Me chamo Joana e sou mãe de uma criança de quatro anos que foi diagnosticada com autismo leve. Ele estuda atualmente em escola da rede privada, mas não estou sentindo retorno . Digo isto pelo fato de já estar no segundo ano na mesma escola e não ter aprendido nenhuma vogal ou cor... A única coisa que vejo melhorada é a integração com os outros coleguinhas. Mas ele ainda não fala só aponta e emite murmúrios ininteligíveis. Parou a Terapia Ocup. e a Fono que fazia pois começamos a sentir necessidade de apoio que não ocorria, mesmo quando solicitado. Iniciou outro atendimento com fono,agora muito melhor. Mas meu contato no momento é para pedir aconselhamento sobre minha intenção de mudá-lo para uma escola da rede municipal de ensino.Não tenho conhecimento sobre os benefícios que nos são garantidos por lei. Pois se optar por um facilitador para ele terei que financiar . Você pode me ajudar com idéias ou informações sobre o assunto. Adorei seu blog. Muito interessante. ( moramos em Belém Pará. Distrito de Icoaraci)

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